Os melhores livros do meu 2014

Pensei em escrever uma retrospectiva do ano, mas ela seria, em sua maior parte, um muro de lamentações. Pensei em participar de um meme do rotaroots e falar quais os cinco sentimentos que eu gostaria de deixar em 2014, mas a lista ultrapassa o limite de cinco. Pensei em muitas coisas e todas levariam a um post chato e cheio de mimimi.
De fato, são poucas as coisas que aconteceram nesse ano e que eu quero guardar pra minha vida. Dentre elas, estão os livros que li esse ano. Pensei então em fazer uma retrospectiva literária igual a do ano passado, mas esbarrei no fato de que li mais que o dobro dos livros de 2013 e que o post ficaria ou longo demais ou superficial demais. Por isso, decidi comentar apenas meus três favoritos do ano e alguns destaques em certas áreas (poesia, infantil, humor, acadêmico, projeto gráfico). Espero que gostem.


Meus livros favoritos:

Quincas BorbaTítulo: Quincas Borba
Autor: Machado de Assis
Editora: Penguin-Companhia das Letras
Ano da edição: 2012
Ano de publicação: 1891
Introdução: John Gledson.

Primeiramente, Machado é Machado. Ele é meu autor favorito na vida, então fica difícil dizer qualquer coisa sem esbarrar numa clara predileção que eu tenho pela narrativa machadiana. De qualquer forma, Quincas Borba foi uma leitura deliciosa em vários sentidos. Dos três livros mais aclamados de Machado, em Quincas Borba é que fica mais claro o modo como o narrador prega peças no leitor. Como Memórias Póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro são narrados pelos personagens principais, o leitor mais desavisado se deixa levar pelas artimanhas de ambos (principalmente do maluco do Bentinho) e, muitas vezes, nem percebe que está sendo enganado. O narrador de Quincas Borba, ao contrário, joga nas costas do leitor a culpa por “ver coisas demais” e juntar coincidências aleatórias para se enganar, quando na verdade parece ser um método que o autor utiliza para mostrar ao leitor o quanto a sociedade impõe certos valores e acaba por corromper nossas mentes. Os personagens são outro deleite, principalmente Sofia. É maravilhoso observar as várias nuances e camadas de sua personalidade e como elas acabam se manifestando em suas ações. Ah, as mulheres de Machado <3… E o enredo como um todo é, como sempre, sensacional!
Quanto à edição do selo Penguin da Companhia das Letras, tenho muito a elogiar! A capa segue a linha da coleção de clássicos de ficção da Penguin britânica, o projeto gráfico é clássico sem ser antiquado. As mais de cem notas de rodapé explicativas auxiliam em muito o leitor, fornecendo base histórico-cultural importantíssima para compreensão de certas passagens e facilitando a vida de alguém que não tenha disponibilidade de pesquisar alguns detalhes. A minha única crítica é com relação à “introdução” de John Gledson. Apesar de interessantíssima, ela caberia mais como posfácio, já que traz spoilers da história e a visão do pesquisador sobre momentos do enredo. O melhor seria permitir ao leitor que terminasse a obra, tirasse suas próprias conclusões e só então se aventurasse pelas considerações de Gledson. De qualquer forma, no geral é um edição muito bem cuidada.

IncidenteTítulo: Incidente em Antares
Autor: Erico Verissimo
Editora: Editora Globo
Ano da edição: 1995
Ano de publicação: 1971

Erico Verissimo é o autor preferido do meu pai e esse livro em especial é também seu favorito. Por causa das recomendações dele, eu já tinha lido Clarissa, Música ao Longe e Caminhos Cruzados. Decidi que minha próxima leitura do autor seria Incidente em Antares, mas acabei demorando para pegar o livro de fato e começar a lê-lo. Hoje me pergunto o porquê de ter passado tantas outras obras na frente dele.
Li esse livro em sete dias e mais ou menos no seguinte ritmo: 60 páginas por dia na primeira parte do livro, 100-120 por dia na segunda (e só parava porque eu tinha de comer, dormir… viver, sei lá). Com uma narrativa envolvente e empolgante, eu não queria parar a leitura. Era uma tortura interromper por algum tempo e ficar sem saber o que aconteceria com os personagens a seguir. Incidente em Antares é aquele tipo de livro que te faz passar pelas mais diversas emoções durante a leitura: dei risada, fiquei triste, ansiosa, irritada (Tibério, essa é pra você, um beijo), e às vezes tudo ao mesmo tempo. Foi uma obra que me fez refletir intensamente sobre o modo como vivemos as nossas vidas. Achei incrível que, usando a faceta de um realismo mágico, Erico (esse inocente útil =P) escancara toda a hipocrisia e a podridão da sociedade. Antares, que parece ser uma cidade do interior pequena e demasiado provinciana, é na verdade um retrato de todo um país, de todo um planeta! E nós todos nos comportamos como os moradores, escondendo, fingindo, omitindo. Guardarei uma das falas de Cícero Branco na cena do coreto como citação para a vida: vivemos, sim, um constante baile de máscaras do qual temos medo de sair.
A edição que li faz parte de uma coleção da obra completa do autor, publicada pela Editora Globo. Em capa dura, estava muito bem conservada apesar dos anos e até mesmo o amarelo das páginas não foi suficiente para atacar minha rinite. Achei as cores da capa muito acertadas para o conteúdo da obra e a diagramação seguiu a mesma linha do que acontece em Quincas Borba.

As MeninasTítulo: As Meninas
Autora: Lygia Fagundes Telles
Editora: Companhia das Letras
Ano da edição: 2011
Ano de publicação: 1973

Sempre tive curiosidade de ler esse livro de tanto ouvir sobre o relato de tortura que ele contém, mas nunca imaginei que fosse gostar do jeito que gostei e me envolver como me envolvi. À medida que lia, me identificava cada vez mais com as personagens e achava que aquele poderia tranquilamente ser meu grupo de amigas, ou até mesmo que eu poderia ser uma delas, já que via em mim um pouco de Lorena e um pouco de Lia. Ao mesmo tempo, a relação que as três cultivam me fez questionar o tipo de amizade que levamos hoje. Lena, Lião e Ana Turva conhecem-se muito bem e o laço entre elas é rompido no momento certo, evitando desgastes, e deixando nelas uma lembrança bonita de tudo que viveram juntas. É difícil falar desse livro sem dar spoilers do final, mas acredito que se algo tivesse transcorrido de outra maneira naquela situação, elas levariam consigo traumas, e não belas memórias. Já li opiniões de pessoas que, ao final da história, concluíram que elas nunca foram amigas. Eu, ao contrário, lembrei-me da frase final do filme Conta Comigo (não vou compartilhar a frase porque o filme merece ser visto). A narrativa da autora é um caso a parte: além de eu já gostar de livros com mais de um personagem como narrador, em As Meninas eu senti que entrava nas mentes das três protagonistas. Lygia consegue traduzir perfeitamente o que elas pensariam/sentiriam em cada situação, e até mesmo os diálogos são característicos. As narrações e diálogos de Ana Clara, por exemplo, são ex-tra-or-di-ná-rios, com os delírios, as mudanças constantes, e até as incompletudes que combinam perfeitamente com uma menina drogada. Me apaixonei pela escrita de Lygia!
Curiosamente, nessa edição parece acontecer o oposto do que ocorre em Quincas Borba: todos os paratextos são pós-textuais, evitando que o leitor tome spoiler na cara (e o texto da própria autora tem um gigantesco) e dando a ele a possibilidade de digerir a leitura antes de adentrar naquilo que outros pensem a respeito. Em compensação, senti falta de notas de rodapé, pelo menos nas expressões em outras línguas. Achei a capa curiosa, causando uma mistura intrigante de delicadeza e caos. Ela também me deu uma sensação de tecido que a Lia usaria, sei lá hahaha

Destaques do ano:

Poesia
Bandeira s2Título: 50 Poemas Escolhidos pelo Autor
Autor: Manuel Bandeira
Editora: Cosac Naify
Ano da edição: 2011

Além de poder reler algumas das minhas poesias favoritas do autor, reunidas num conjunto fantástico, ainda tive a oportunidade de ouvir o próprio Bandeira declamando algumas dessas poesias no CD que vem junto com o livro. Um beijo pra Cosac por essa edição linda!

Infantil
aliceTítulo: Alice no País das Maravilhas
Autor: Lewis Carroll
Editora: Cosac Naify
Ano da edição: 2010

Como se não bastasse uma história deliciosa, que é infantil e adulta ao mesmo tempo, a edição ainda conta com pós-textuais muito interessantes (como até mesmo uma lista de adaptações cinematográficas), ilustrações lindíssimas e esse formato fofo arredondado nos cantos!

Humor
manualTítulo: Manual de Sobrevivência dos Tímidos
Autor: Bruno Maron
Editora: Lote 42
Ano da edição: 2013

Sei que isso pode parecer um sacrilégio em um ano que li Luís Fernando (<3) e Millôr, mas é que esse livro e essa editora foram achados que a Copa me proporcionou e parece que Bruno Maron escreveu um manual da minha vida! Tímidos, vale muito a leitura!

Acadêmico
otelo brasileiroTítulo: O Otelo Brasileiro de Machado de Assis
Autora: Helen Caldwell
Editora: Ateliê Editorial
Ano da edição: 2008

Num semestre em que tive de ler muitos acadêmicos não tão interessantes, esse livro foi um refresco! Pra quem gosta de Machado e/ou de Dom Casmurro, e principalmente pra quem defende a Capitu (ou quer entender os defensores), recomendo FORTEMENTE esse livro!

Projeto gráfico
avenidaTítulo: Avenida Niévski
Autor: Nikolai Gógol
Editora: Cosac Naify
Ano da edição: 2012

Como não amar um livro desses? Além de um enredo interessante, ele (junto com Notas de Petersburgo, outro livro com projeto gráfico muito bom) é “embrulhado” num papel que simula um jornal da época e, dentro, as páginas são diagramadas de forma bastante curiosa. O livro é dividido horizontalmente ao meio e as metades recebem fontes de duas cores diferentes. Ao terminar a primeira metade, o leitor deve virar o livro de cabeça pra baixo e ler o resto do livro. Isso sem contar as belas ilustrações, também coloridas em laranja e roxo. É como se fôssemos levados a caminhar pelos dois lados da Avenida Niévski, indo e voltando.

E se o texto já ficou longo assim sem eu ter falado com profundidade sobre todos os livros que eu li, imaginem se eu tivesse comentado todos! =P